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Dia Mundial do Rim: Vivendo bem com a Doença Renal

Imagem: Dia Mundial do Rim_Fundação Pró-Renal
Autora: Luana R. de Santi

Neste ano o Dia Mundial do Rim (DMR) acontecerá no dia 11 de Março e carregará o tema “Vivendo bem com a doença renal”. O objetivo da data é conscientizar e orientar o paciente com doença renal crônica (DRC) quanto aos próprios sintomas, para que possa participar, de forma mais efetiva, na rotina da vida cotidiana. Embora medidas eficazes de prevenção e progressão da DRC sejam importantes, os pacientes com doença renal – incluindo aqueles que dependem de diálise, e os transplantados renais – devem sentir-se apoiados, junto aos seus familiares e acompanhantes, especialmente durante pandemias e outros períodos críticos (JBN, 2021).

Como a Psicologia está envolvida nesta temática?

A Doença renal crônica interfere na rotina, hábitos e projetos de vida. Além das alterações físicas, o paciente precisará enfrentar outras mudanças que impactam a sua vida, especialmente quando se faz necessário o ingresso em Terapia Renal Substitutiva (TRS). A literatura ressalta a importância de mobilizar estratégias de enfrentamento frente ao adoecer e também apresenta a rede de apoio (familiar e social) e o vínculo com a equipe de Diálise como ferramentas para a melhora da qualidade de vida do paciente renal. Adoecer representa, em muitas esferas, uma ruptura. É preciso traçar outros caminhos, refazer escolhas e adaptar as decisões às novas circunstâncias. Em outras palavras, ressignificar – e este é um dos propósitos da psicoterapia.

A Psicologia reconhece a importância do suporte social no tratamento, ao passo que se preocupa em estimular a autonomia e individualidade. O envolvimento da rede de apoio é realizado com a participação e autorização do paciente. Isso quer dizer que há o comprometimento em validar, no paciente, o protagonismo de seu tratamento. 

Por vezes, o início da terapia dialítica é demarcado pela dificuldade de adaptação, seja pelas alterações de humor, os desafios em mobilizar recursos de enfrentamento ou por características de personalidade. Ao chegar nas instituições de saúde, o paciente está fundamentado em convicções e crenças, constituídas a partir de suas vivências obtidas. É preciso considerá-las no processo de adesão e adaptação ao tratamento. Desse modo, utiliza-se a psicoeducação, a qual reúne conhecimentos psicológicos e educativos e se caracteriza na transmissão de conhecimento sobre o quadro clínico associado a estratégias de acolhimento psicológico e promoção de insight sobre o estado de saúde do sujeito. A técnica pode ser utilizada com familiares também, visto que tende a contribuir para o  aumento da percepção dos benefícios do ato de cuidar.

O tratamento dialítico, ainda que seja considerado o procedimento habitual e suportável que garante a continuidade da vida, por vezes é percebido como um aprisionamento, provocando uma relação de ambivalência entre o paciente e a hemodiálise. De acordo com Galvão e colaboradores (2019), o indivíduo que trabalha a sua resiliência, tende perceber/elencar estratégias para a resolução de problemas e, portanto, desenvolver a resiliência pode contribuir para adaptação à terapia dialítica. O termo se refere ao processo dinâmico e intersubjetivo associado à capacidade do indivíduo em utilizar recursos internos que promovam o bem-estar. Assim, abrange atributos específicos relacionados ao indivíduo e ao contexto em que este está inserido, partindo de uma concepção de ser humano ativo, social e histórico, e de uma concepção dialética de mundo. A resiliência envolve a dinâmica entre os fatores de risco e de proteção em variados níveis, promovendo a superação da condição adversa.

 “Afinal, resiliência não é ter pressa. Ser resiliente é seguir em diante, seja na velocidade que for.” – Autor desconhecido.

A pandemia de COVID-19 pode interferir na saúde mental das pessoas que possuem DRC?

            O momento de crise sanitária tem impactado a saúde mental de toda a população, especialmente das mais vulneráveis. Os pacientes renais são considerados grupos de risco para o COVID-19, e portanto, têm sido alertados sobre a importância do autocuidado e das medidas restritivas. Em suma, são pessoas que tiveram forte impacto sobre a autonomia e sociabilidade. Os pacientes que estão em Terapia Renal Substitutiva, seguem frequentando as clínicas de diálise, mas com rotinas diferentes. O medo, o desconforto em lidar com o isolamento e, por vezes, a negação tem sido questões observadas. E de fato, são sentimentos/sensações esperados para esse período. Ainda que a pandemia tenha começado em 2020, percebemos que o trabalho de conscientização e educação em saúde são importantes e precisam ser continuados. Isto não somente sobre as questões físicas, mas também sobre os riscos psicológicos que cerceiam o cenário atual. 

Quais são indícios de que há necessidade de procurar acompanhamento psicológico?

  • Alterações no padrão do sono;
  • Alterações nos níveis de humor;
  • Transtornos alimentares;
  • Dependência de substância;
  • Dificuldades com a autoestima;
  • Dificuldades de adesão/adaptação ao tratamento;
  • E entre outras situações que requeiram escuta qualificada ou o desejo de compartilhar vivências e ressignificar histórias.  

Cuide-se! O autocuidado acontece no cotidiano, através de práticas e condutas que consideram as suas necessidades físicas e psicológicas. Para além do comprometimento com o bem-estar físico, é o compromisso em reconhecer a dimensão subjetiva (emoções, sentimentos, percepções…) e, assim, validar sua importância.

Referência

GALVAO, Jéssica Oliveira; MATSUOKA, Érica Tavares de Melo; CASTANHA, Alessandra Ramos  e  FURTADO, Francisca Marina de Souza Freire. Processos de enfrentamento e resiliência em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise. Contextos Clínic [online]. 2019, vol.12, n.2, pp. 659-684. ISSN 1983-3482.

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