Cotidiano

Estressores psicológicos na Doença Renal

Fonte: shutterstock.com

Autora: Iris M. Okumura

Corpo da postagem:

Dentre as possibilidades de atuação da Psicologia, insere-se a área da saúde. A(O) psicóloga(o) foca sobre a saúde mental e o bem-estar subjetivo, entendendo que cada situação é experienciada de maneira individual. Compreende-se a totalidade da pessoa, a qual participa e interage em vários domínios, assim, aspectos psicológico-emocionais devem ser vistos em relação à condição física, social, bem como a história de vida narrada pelo sujeito.

A(O) psicóloga(o) atuante na nefrologia busca conhecer os fatores de risco e proteção que o paciente dispõe e que podem influenciar em seu estado de saúde. Estes incluem compreensão da doença, do processo de adoecimento e orientações do tratamento, aspectos situacionais (como é / está) e reacionais (como reage), presença quantitativa e qualitativa da rede de apoio, disponibilidade pessoal e motivação para iniciar e manter mudanças, realização de atividades significativas, histórico de doença mental, entre outros. Nessa investigação, é importante que o paciente também esteja disposto a refletir e contar suas percepções.

Mudanças e imprevistos geram estresse e, conforme a intensidade percebida, são vivenciadas como crises na vida da pessoa. A descoberta e convivência com uma doença leva à revisão de comportamentos, relacionamentos, planejamentos, funções, rotina… Mesmo mantendo os papéis sociais, ocorre a necessidade de adaptação, considerando que o desempenho da pessoa pode mudar. Ou seja, as atividades realizadas anteriormente ao adoecimento passam a ter um ritmo e propósito diferentes, impondo um novo modo de fazer, ser e adequar as expectativas.

A literatura identifica oito estressores que a pessoa pode se deparar quando diagnosticada com uma doença e precisa iniciar um tratamento. São eles:

  1. Ameaça à autoestima: adoecimento repentino, sucessivas hospitalizações e a ameaça à vida trazem o embate de que não temos total controle sobre nosso corpo e destino;
  2. Medo do desconhecido: passar a depender de uma equipe de saúde e confiar o tratamento / a vida a pessoas desconhecidas. Além disso, o próprio diagnóstico e adoecimento se tornam um campo novo a ser percorrido;
  3. Ansiedade de separação: o tratamento contínuo de uma doença leva a mudanças na rotina e readequação de prioridades, assim, comumente ocorre o distanciamento de pessoas que convivia e das atividades que realizava. Pode-se experienciar ansiedade com a separação do contexto que estava acostumado e que era considerado importante para o paciente;
  4. Medo de perder o amor e necessidade de aprovação: relacionado à nova condição de ser doente e consequente alterações no papel social e funcionalidade da pessoa. Os relacionamentos (com a família, amigos, colegas de trabalho) que foram construídos antes do adoecimento também estão suscetíveis a mudanças, tanto na percepção dos outros sobre o paciente como na forma de se relacionarem;
  5. Medo de perder o controle das funções já desenvolvidas, sejam elas físicas ou mentais, ainda que provisoriamente. É angustiante lidar com perdas funcionais e com a possibilidade de não conseguir recuperá-las novamente;
  6. Medo de perder ou sofrer danos no corpo: assumir o lugar de (ser) paciente traz o sentimento de impotência e maior vulnerabilidade do corpo, o qual fica exposto a intervenções e procedimentos de saúde;
  7. Culpa e medo da retaliação: sentimentos de culpa e vergonha também acompanham o processo de adoecimento quando a doença é associada a um castigo ou sentença a ser cumprida decorrente de erros / arrependimentos na vida;
  8. Medo da dor, seja ela física ou emocional, levam ao estado de maior vulnerabilidade, sofrimento e estresse ao paciente.

O acompanhamento psicológico pode auxiliar no enfrentamento desses estressores, ou seja, possibilitar a compreensão das influências externas – por exemplo, como a doença em si e o tratamento afetam – e da percepção do paciente, pensamentos e sentimentos sobre o próprio processo de adoecer.

* Strains, JL. Impediments to Psychological Care of the Chronic Renal Patient. In: Levy, NB. Psychonephrology 1: psychological factors in hemodialysis and transplantation.International Conference on Psychological Factors in Hemodialysis and Transplantation. Downstate Medical Center: New York, 1978.

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