Cotidiano

RELATOS RENAIS: “Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu”

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História de Amália[i], em diálise peritoneal há 2 anos

Nasci em Curitiba, no Alto da rua XV. Meus pais batalharam muito na vida: meu pai trabalhava fora durante o dia todo e voltava tarde para casa e minha mãe criou 10 filhos. Tive uma infância agitada junto aos meus irmãos. Pulava, brincava, subia em árvores, caçava rãs… Aprontei muito quando menina.

O momento mais feliz e marcante da minha vida foi quando dei à luz o meu filho, que foi muito desejado e esperado. Este nascimento dele teve um significado muito especial para mim, pois antes dele perdi um filho que faleceu logo ao nascer.

Quando meu filho tinha 3 anos nos mudamos para Joinville, pois meu marido foi transferido no trabalho. Lá morei 8 anos e ahhh… eu adoro aquela cidade. Depois voltei para Curitiba, mas se eu pudesse, moraria lá novamente.

Junto com meu marido, fiz muitas viagens e passeios. Eu passava boa parte do ano na praia. Além do nosso filho biológico, cuidamos de outras três crianças que ajudamos a educar e que amamos muito, como filhos. Dois deles são meus sobrinhos e moraram comigo por um tempo. A outra conhecemos em Joinville e um dia ela foi morar na nossa casa e lá ficou por 3 anos.

Com essa grande família, muitos irmãos, sobrinhos, filhos, amigos, sempre recebi muitas pessoas em minha casa e de braços abertos. Também tive e tenho muitas pessoas para me apoiar e fazer companhia. Na minha família a gente tem uma “harmonia natural”, a gente briga, mas sempre se entende.

Há dois anos fiz uma cirurgia no coração, precisei de quatro pontes de safena. Eu estava sentindo uma dor no peito e no braço. Demorei alguns dias para procurar um médico. Quando fui à Unidade de Pronto Atendimento, fiquei dois dias lá fazendo exames e então me enviaram para o Hospital. Lá o médico me contou que eu precisaria de cirurgia. Ele me disse que poderia me liberar para ficar em casa até o final da semana, contar para minha família, e voltar na semana seguinte, mas ele alertou que eu corria risco de não resistir. Então, eu quis fazer a cirurgia já no dia seguinte e não quis contar para meus familiares, para não preocupá-los. Na cirurgia, correu tudo muito bem. Naquela época, meus rins já estavam piorando.

Eu já sabia da doença renal há mais ou menos 10 anos, tenho irmãos que tiveram a doença e fui diagnosticada com Rins Policísticos há cinco anos. No final de 2016, me avisaram que eu precisaria iniciar a diálise. Fiquei apreensiva no início, porque era uma coisa muito distante da minha realidade. Foi quando iniciei meu tratamento na Fundação Pró-Renal e desde então as coisas só melhoraram. Vir aqui melhorou minha autoestima e meus cuidados com minha saúde. Aqui me sinto bem!

A equipe médica sugeriu a diálise peritoneal ao invés das outras modalidades, porque meu coração estava fraco. Fiz primeiro a diálise manual e depois comecei a dialisar na máquina a noite. Na primeira semana não consegui dormir bem, mas hoje é muito tranquilo. Ás vezes a máquina apita durante a noite, eu acordo, mas volto a dormir. A máquina é minha companhia, está sempre ali.

Hoje lido com a doença como uma coisa normal. Para mim, a doença renal é um percalço da vida. Ninguém escolhe ou quer ser doente renal, mas uma vez que se tem a doença, a vida continua. Acredito até que a doença me deixou mais forte. Com ela entendi que tenho que lutar por mim mesma. Não faço as coisas no mesmo ritmo que fazia antigamente, levo com mais calma e pego mais leve, mas não me deixei desanimar.

Até hoje, a vida melhorou muito, apesar do diagnóstico. Hoje sou uma pessoa muito diferente do que eu era. Eu costumava dar muito valor às coisas materiais. Hoje desapeguei destas coisas e sou mais humana. Conheci a palavra de Deus e isso me transformou. Costumo dizer que “é Deus no céu e a Pró-Renal na terra”. Gosto de levar uma vida pautada na verdade e no amor. Sou sensível e solidária e aqueles que estão ao meu lado sabem que sou de confiança.

Digo para vocês uma coisa… a vida, quando a gente sabe viver, é plena. Para isso, é preciso viver em harmonia, ter paz, estar contente com aquilo que tem e lutar pelo que não tem. Posso dizer que fui feliz e continuarei sendo. Antigamente, eu tinha medo de morrer, hoje não. Hoje nutro um sentimento diferente em relação à morte. Antes de ir, eu ainda gostaria de ver o meu filho bem encaminhado e firme naquilo que ele for fazer na vida dele. Os filhos são as nossas sementes. Enquanto eu estiver por aqui, eu vou aproveitar, porque a vida é boa!!!

[i] Nome fictício. A divulgação deste texto foi previamente avaliada e autorizada pela paciente.

 

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