Textos Reflexivos

Os Tempos da Vida e o Tempo de Cada Um

Fonte da imagem: http://www.projectmanage.com/project-management-is-time-management/

Por: Luiza Helena Raittz Cavallet

Algumas vezes me pego pensando que algo ou alguém “não está de acordo com aquela faixa etária”. No entanto, logo em seguida me questiono… mas a final de contas, o que é “apropriado” ou não para uma certa idade?

Diversos autores da Psicologia já trouxeram à tona essa discussão, discordando e convergindo entre si em alguns aspectos. Alguns deles, como Jean Piaget e Erik Erikson, discorrem sobre “estágios” e/ou “etapas” que seriam característicos de cada momento da vida e que ocorrem em determinada sequência. Já Vygotsky, por outro lado, ressalta a importância de olhar para a relação entre o indivíduo e suas interações sociais e condições de vida, quais estímulos recebe, com quais elementos tem contato e tem oportunidade ou não de se apropriar. Nesta perspectiva, o desenvolvimento se constitui de um modo ao mesmo tempo singular e social.

A cultura é um elemento central nesta discussão. Diversos pensadores tem abordado as mudanças sociais e quais seriam os impactos destas transições no desenvolvimento humano. Zygmunt Bauman, por exemplo, fala da modernidade líquida e de nossa tendência a transitar entre as coisas sem nos fixarmos muito, por conta da velocidade em que as coisas tem acontecido nesta era da internet. Contardo Calligaris e José Outeiral, apontam para os impactos deste tempo de consumismo e do apelo à diversão sem consequências na transição da infância à fase adulta. Eles, assim como diversos outros pensadores, falam sobre o que hoje tem sido chamado de adolescência tardia e/ou “adolescentização” de todas as fases da vida, da infância à senilidade.

Eu, particularmente, gosto de pensar com Freud, mais do que em comportamentos específicos de uma determinada idade, a ideia de pontos de “fixação”. Aspectos de cada fase da vida que não foram bem elaborados e que permanecem como traços, sintomas, defesas, podendo ou não trazer mais ou menos sofrimento, a depender de sua dimensão e das condições atuais da vida de cada um. Em momentos de maior dificuldade, podemos recorrer com maior frequência/intensidade às formas de satisfação e defesa de uma fase aparentemente já deixada para trás. Falando em linguagem simples, aquilo que não ficou bem resolvido permanece conosco em nossa bagagem e pode se transformar em um peso.

Fica a questão: esses comportamentos que parecem deslocados do momento de vida que a pessoa está e que podem trazer sofrimento são conscientes e voluntários? Nem sempre! Se a pessoa pudesse recorrer a outros mecanismos de defesa, ela o faria. Em seu texto “Psicanálise Silvestre”, Freud alerta para a responsabilidade dos analistas em respeitar o momento que cada pessoa está vivendo e suas condições para tomar ou não consciência de determinados conteúdos inconscientes. Ou seja, respeitar o tempo de cada um de perceber-se, compreender-se, tomar contato com as partes que mantém escondidas de si mesmo.

E quando nós mesmos nos questionamos sobre o que “deveríamos” ou não estar fazendo em cada idade e/ou fase da vida? Fica a reflexão… se esta pergunta está mais fundamentada em cobranças externas (familiares, sociais, culturais) do que em necessidades internas cabe uma revisão dos próprios valores e tabus. O comportamento que está sendo questionado te faz sofrer ou faz sofrer aqueles que estão a tua volta? O que te incomoda são as consequências deste aspecto em você e no seu dia a dia ou aquilo que “os outros vão pensar de você”? O que você tem feito para mudar aquilo que te incomoda? São algumas perguntas para fazer caminhar o processo de autoconhecimento.

Os tempos - Imagem 2

Fonte da imagem: http://journalpsyche.org/your-hidden-unconscious-mind/

Que nós nunca deixemos de lado o processo de questionar ao mundo e a nós mesmos!

 

“Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-lo de destino.”…

– Carl Gustav Jung

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