Autores: Luana Santi e Iris M. Okumura
Por vezes, acontecem situações que nos convidam a redirecionar o trajeto da vida. O desejo de mudança, algum projeto que deu certo (ou que não deu), o nascimento do filho, o rompimento de um relacionamento, a descoberta de uma doença crônica… Redirecionar nossa rota é se permitir olhar para outros caminhos com abertura e flexibilidade para o que está por vir, tarefa que nem sempre é fácil. Mesmo porque, mudar implica em mobilizar recursos psicológicos para conseguir se adequar à novidade apresentada.
A Psicologia Analítica é uma abordagem que utiliza mitos e imagens para explorar as nossas narrativas. Um exemplo é o arquétipo do Puer. Já assistiu ou leu a história de Peter Pan? Ele representa esse arquétipo que fala da figura da criança que não deseja crescer e que olha para a vida com entusiasmo, fantasia e curiosidade. Carrega a sensação de que “tudo pode”, sentindo-se imbatível, indestrutível.
Observe uma criança. Em geral, possui a percepção de que o mundo gira em torno das necessidades pessoais dela. A forma de se expressar seja falando ou brincando, demonstra energia, maior impulsividade de ações e criatividade ilimitada. Muitas vezes, o real e o faz-de-conta se misturam.
Apesar de representar o período da infância, essas características nem sempre correspondem à idade cronológica. Assim como existem crianças mais prudentes, há adultos inconsequentes. Ou seja, não está relacionado apenas à soma dos anos de vida que temos, mas a um aspecto subjetivo. A representação do Puer na figura de Peter Pan remete à renovação da vida e fortalecimento da juventude psíquica. Em alguma medida, renovar-se psiquicamente enseja estar aberto ao novo que se apresenta.
Em muitos momentos na vida é preciso resgatar a criança que reside em nós, para podermos encarar as duras realidades impostas e que carregamos conosco. Mas com cuidado! Não se pode ser criança o tempo todo. Assumir as responsabilidades que a vida propõe é saudável para o nosso crescimento e desenvolvimento. Há maneiras de pensar e agir que se encaixam melhor em determinada fase e que com o tempo podem não combinar mais conosco ou com o momento. Eis que se faz necessário ponderar sobre o que foi vivido… e como se tem vivido.
Manter as coisas como estamos acostumados tem um custo, bem como adequar a rotina, rever hábitos, flexibilizar posicionamentos demandam energia para a mudança. “Viver seria uma aventura incrível”*, se nos permitirmos.
*Trecho de Peter Pan.
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