Textos Reflexivos

Filme Elsa e Fred – O amor para além da hemodiálise

Autora: Psicóloga Jéssica Caroline dos Santos

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Elsa e Fred – Um Amor de Paixão é um filme argentino, dirigido por Marcos Carnevale e lançado em 2005. O longa-metragem destaca-se por apresentar a temática do envelhecimento e do desenvolvimento psicológico nesta importante etapa da vida. Os personagens principais são Elsa e Fred, dois viúvos entre 75 e 80 anos, apresentam personalidades totalmente opostas, cada um deles pode ser visto como uma expressão viva das dinâmicas relacionais dos arquétipos Puer e Senex (MONTEIRO, 2008).

O conceito de arquétipo foi amplamente discutido por Jung (2011) para retratar conteúdos que não se referem a experiência consciente e pessoal, agora ou do passado, mas a algo essencialmente inconsciente. Para Jung (2011), os arquétipos são produtos originados do inconsciente coletivo, justamente por serem identificados no decorrer da humanidade, originados de uma repetição progressiva de uma mesma experiência durante muitas gerações.

O arquétipo do puer, segundoJung (2011), está relacionado ao impulso mais forte, a espontaneidade, curiosidade, liberdade, fantasia e criatividade. Para Hillman (2008) o puer está relacionado ao impulso para o novo, ação e mudanças. O arquétipo do velho, o senex, segundo Simão (2012) carrega tanto características de determinação, ordenação, continuidade e repetição, como aspectos de limitação, inercia, paralisação e depressão.

Neste sentido, os personagens são representantes arquetípicos do senex, no entanto, Elsa tem característica puer enquanto Fred está identificado negativamente com o senex. O encontro dos personagens pode ser a metáfora da vida real, o confronto com o diferente, necessitando de adaptações e flexibilizações. Esses atributos são importantes facetas para o desenvolvimento psicológico.

A identificação afetiva com Elsa possibilita o rompimento da rigidez de Fred, Elsa transmite amor, incentiva sonhos, fantasias e contribuiu para que o personagem entrasse em contato com a sua criança interior. Juntamente com Elsa vivenciaram experiências afetivas, culturais, gastronômicas, em uma cena do filme, ambos jantam em um restaurante elegante e depois saem sem pagar a conta.

Fred por outro lado ensina a Elsa a ter os pés no chão, planejar, pensar para que haja uma organização em sua vida. Ambos vencem as barreiras de suas velhices para vivenciarem algo novo e inspirador, o casal atravessado por essa experiência da paixão encontra o lugar seguro para realização dos seus sonhos. Neste sentido os arquétipos do Puer e Senex ficam em constante movimento na psique destes personagens.

É importante ressaltar que Elsa é uma paciente renal crônica, esta se divide entre o tratamento, família e o papel de namorada, assim, a personagem deixa a mensagem que todos podem sonhar e se organizar para além da sua condição de saúde. É necessário refletir, buscar mudanças para que a velhice e o adoecimento não sejam as barreiras da vida e do desenvolvimento psicológico. Para tanto, é preciso buscar a espontaneidade, criatividade da criança ao mesmo tempo a sabedoria e a precisão do nosso velho interior.  

Referências

HILLMAN, James. O livro do puer. Paulus, 2008.

JUNG, Carl Gustav. Arquétipos e o inconsciente coletivo. Editora Vozes Limitada, 2011.

MONTEIRO, Dulcinéa da Mata Ribeiro. Puer-Senex: dinâmicas relacionais. Petrópolis: Editora Vozes, 2010.

SIMÃO, K. G. O Doente renal crônico sob a ótica do Senex: uma compreensão arquetípica da insuficiência renal crônica in: BILOTTA, F. A.; AMORIM, S. A psicologia Junguiana entra no hospital: diálogos entre corpo e psique. São Paulo: Vetor, 2012.

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