Textos Reflexivos

Processo de Retirada de Diálise

Por: Debora Berger Schmidt

Indicação de Leitura:

PROCESSO DE RETIRADA DE DIÁLISE

Capítulo do livro CUIDADOS PALIATIVOS RENALES, escrito por Juan Pablo Leiva Santos.

O capítulo assim intitulado compõe a última seção do livro e discorre sobre as últimas etapas da doença renal. Quem se dispõe a ouvir os pacientes e seus familiares sabe que o tema é recorrente em seus discursos que frequentemente elucidam as dificuldades associadas à intensa rotina do tratamento e todos os seus desdobramentos, apontam desejo de interromper o tratamento e são atravessados por questionamentos genuínos sobre a efetividade da diálise, especialmente em casos complexos, com inúmeras comorbidades e/ou agravantes.

Pacientes com idade avançada, com patologias e tratamento associados, relatam com frequência o desejo de interromper a terapia renal substitutiva. Por vezes o relato não é devidamente valorizado pela equipe, e, na tentativa de se proteger da angustia intensa e até de conflito ético que se associa a questão, profissionais acabam por mergulhar em protocolos, pensamentos e crenças que, por sua vez, justificam tal posicionamento.

O autor discorre que em termos ideais a retirada de diálise deve estar fundamentada no modelo de tomada de decisão compartilhada: uma aliança verdadeira entre o nefrologista e o paciente e / ou o representante legal ou cuidador principal, que daria base a um consenso para uma decisão médica, legal e eticamente válida de retirada e diálise. Para se fazer cumprir esse modelo é categórico que o próprio paciente participe do processo de decisões compartilhadas, desde que ele seja competente e capaz e quando não é (nos casos de demência, deficiências neurológicas / psiquiátricas avançadas ou outras) seu responsável legal é aquele que deve assumir esse papel na primeira pessoa durante o processo de decisão compartilhada.

A questão norteadora que se discorre nas próximas linhas do capítulo é: uma retirada de diálise pode ser saudável? Pautado na literatura cientifica da última década o autor considera que sim, embora reconheça que se trata uma situação muito sensível. Fundamentado em recomendações internacionais, o autor apresenta um protocolo chamado Intro-PAC-WDC (Introdução: Introdução; PAC: Pro Active Care; WDC: Tratamento de Diálise Retirada) referindo-se a três fases desse processo, cada uma delas baseadas em princípios bioéticos, constituindo-se como uma proposta de guia para profissionais na orientação e acompanhamento de pacientes e seus familiares no difícil cenário de um processo de retirada da diálise.

Segue abaixo trechos de pontos-chave  de princípios apontados pelo autor que a equipe deve considerar:

1. Assegure-se de que a decisão seja baseada nas necessidades do paciente. O fator fundamental para avaliar uma retirada de diálise é que ela não é mais benéfica para o paciente, e que a diálise está comprometendo ativamente sua qualidade de vida.

2. A indisponibilidade de recursos não deve ser um elemento a considerar em qualquer processo de retirada de diálise.

3. O paciente deve ter a possibilidade de uma segunda opinião, e isso pode incluir: outros nefrologistas, psiquiatras, assistente social, defensores de grupos minoritários, Cares Paliativo, reabilitação.

4. Médicos e profissionais de saúde têm a responsabilidade de oferecer orientação e acolhimento ao paciente e sua família em uma relação assertiva e de confiança.

5. Quando houver discordância entre o paciente e sua família, uma interconsulta deve ser considerada que aborde a defesa do posicionamento do paciente.

6. Facilitar um processo de tomada de decisão antecipada para ajudar o paciente a entender sua condição e estabelecer seus próprios objetivos de cuidado e posicionamento sobre casos de reanimação, por exemplo.

7. Disponibilidade de uma equipe de Cuidados Paliativos para pacientes e suas famílias. A garantia de que as necessidades físicas, psico-sociais e espirituais serão sistemática e rotineiramente atendidas e assistidas é um mínimo indispensável em um processo de retirada de diálise de ótima qualidade.

Por fim, o tema é denso e carece de publicações científicas no cenário brasileiro da Nefrologia. Compreender o processo da morte e do morrer de modo natural em um contexto onde diariamente se assiste a luta pela vida parece um paradoxo difícil de conviver não somente para pacientes e familiares, mas também para equipes de saúde.

Caso tenha interesse sobre o tema, você pode clicar aqui [u1] para acessar o capítulo e o livro na íntegra. Embora o texto não seja escrito em português, é de fácil compreensão e um verdadeiro convite à reflexão que todos que trabalham ou transitam pela área merecem ter acesso.

REFERÊNCIAS

LEIVA, J.P. Processo de Retirada de Diálise. In: Alberto Alonso Babarro; Helena García Llana; Juan Pablo Leiva Santos; Rosa Sánchez Hernández. (Org.). Cuidados Paliativos En Enfermedad Renal Crónica Avanzada. 1ed.Madrid: Ediciones Pulso, 2018, v. , p. 409-427.


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