Pesquisas Científicas

Indicação de Leitura: Alterações do Sono e do Humor nas Diferentes Modalidades de Diálise

Por: Luiza Helena Raittz Cavallet

Alterações do sono e do humor nas diferentes modalidades de diálise - Imagem 1

FONTE: SHUTTERSTOCK

 

A qualidade do sono é um importante fator relacionado à qualidade de vida e saúde. As desordens do sono são mais comuns do que se imagina. Na população de doentes renais crônicos a prevalência de distúrbios do sono é maior do que na população em geral, podendo atingir de 50% a 80% dos pacientes. Além dos impactos na qualidade de vida, os distúrbios do sono estão também associado à maior morbidade e mortalidade (Losso, Minhoto & Riella, 2015).

No contexto da Nefrologia, uma questão frequentemente levantada é se há diferenças em relação à qualidade do sono na Hemodiálise (HD), na Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua (CAPD) e na Diálise Peritoneal Automatizada (APD), porém há poucas evidências científicas comparando-as. Neste sentido, o estudo de Losso, Minhoto e Riella (2015) buscou confrontar as modalidades com relação à presença de desordens do sono. A pesquisa foi realizada na Fundação Pró-Renal com 166 pacientes em diferentes modalidades de Terapia Renal Substitutiva (HD; CAPD; APD). Foram utilizados dados do prontuário (demográficos, exames laboratoriais, medicações em uso, comorbidades) e 10 questionários: Escala de sono Epworth, 4 questionários da Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, Critérios diagnósticos do Grupo Internacional de Estudo da Síndrome das Pernas Inquietas, Questionário de Berlim para apnéia do sono, Higiene do sono inadequada, Inventário de depressão de Beck e Inventário de Ansiedade Traço –Estado.

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FONTE: pipelineperformancegroup

 

A desordem mais frequente encontrada pelos autores foi a insônia (85% dos participantes em HD; 81% dos participantes em CAPD; 84% dos participantes em APD), seguida por: 2 – síndrome da apneia obstrutiva do sono, 3 – síndrome das pernas inquietas, 4 – sonolência diurna, 5 – transtorno do comportamento do sono REM,  6 – bruxismo e sonambulismo. (Losso, Minhoto & Riella, 2015).

A pesquisa demonstrou que todas as desordens do sono estudadas, com exceção da síndrome das pernas inquietas, tiveram resultados similares na APD e na CAPD, contrariando a hipótese levantada de que a diálise automatizada (APD) teria mais impactos na qualidade do sono do que a diálise peritoneal manual devido ao barulho da máquina durante a noite. (Losso, Minhoto & Riella, 2015).

A síndrome da apneia obstrutiva do sono foi mais frequente em pacientes em diálise peritoneal (65% dos em CAPD; 60% dos em APD) do que em pacientes em hemodiálise (36%). A análise estatística foi significativa na comparação destes grupos, evidenciando que pacientes em diálise peritoneal são mais propensos a terem a síndrome do que pacientes em HD. A explicação mais provável, segundo os autores, é o maior índice de massa corporal (IMC) dos pacientes em diálise peritoneal. (Losso, Minhoto & Riella, 2015).

Pacientes em APD apresentaram maiores índices de síndrome das pernas inquietas (50%) quando comparados aos da HD (23%) e da CAPD (33%). A causa dessa diferença não ficou determinada no estudo, sugerindo futuras pesquisas com o uso de polissonografia.

Alterações do sono e do humor nas diferentes modalidades de diálise - Imagem 3

FONTE: HEALTHYPLACE.COM

O estudo também avaliou a presença de ansiedade e depressão nos participantes, evidenciando altos escores.  Através da escala de depressão de Beck, os autores encontraram níveis significativos de depressão em 22% dos pacientes em HD, 25% dos pacientes em CAPD e 29% dos pacientes em APD. Com relação à ansiedade, o estudo utilizou para avaliação o Inventário de Ansiedade Estado-Traço (STAI/IDATE). Dos pacientes avaliados, apresentaram resultados positivos para ansiedade (estado e traço/ escores médios e altos) 68% dos pacientes em HD, 49% dos pacientes em CAPD e 62% dos pacientes em APD. Não houveram diferenças significativas entre os grupos, evidenciando que a ansiedade e a depressão possuem alta prevalência nessa população independentemente da modalidade de TRS. O estudo evidenciou também baixo uso de antidepressivos (6% HD, 10% CAPD, 7% APD) e ansiolíticos (14% HD, 8% CAPD, 24% APD), levantando a possibilidade de estas condições estarem sendo subdiagnosticadas.

O alto consumo de cafeína entre os participantes do estudo (60% dos pacientes em HD; 54% CAPD; 65% DPA) é um dos potenciais fatores de risco para a menor qualidade do sono. Outros hábitos como o consumo de álcool (11% HD; 8% CAPD; 11% DPA) e tabaco (10% HD; 12% CAPD; 7% DPA) influenciam na qualidade do sono e precisam ser analisados nesta população.

O acompanhamento da qualidade do sono e do humor em pessoas com doença renal crônica é essencial, devido aos seus potenciais impactos na qualidade de vida, comorbidades e adesão ao tratamento. Destaca-se a importância do acompanhamento multiprofissional para garantir a assistência integral desta complexa patologia.

Acesse o artigo original aqui.

Referência

Losso, R. M., Minhoto, G. R., Riella, M.C.  Sleep disorders in patients with endstage renal disease undergoing dialysis: comparison between hemodialysis, continuous ambulatory peritoneal dialysis and automated peritoneal dialysis. Int Urol Nephrol. 2015 Feb;47(2):369-75. doi: 10.1007/s11255-014-0860-5.

 

 

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