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Por: Luana Santi
Socialmente, o trabalho é colocado como um aspecto que fornece sentido à vida de homens e mulheres. Inclusive, é comum que escutemos de muitos dos nossos pacientes a frase: “eu prejudiquei a minha saúde porque estava exclusivamente focado no trabalho”. Essa afirmativa é significativa porque nos apresenta a uma problemática sobre a qual precisamos refletir; fala de uma relação paradoxal entre indivíduo e trabalho, pois ao passo que é fonte de sentido e motivação, é também de adoecimento.
A literatura sobre qualidade de vida do paciente renal crônico, coloca que a atividade laboral costuma ser afetada pela doença e pela rotina dos tratamentos renais substitutivos, principalmente a hemodiálise. Seja pela rotina de tratamento que exige do paciente uma rígida dedicação semanal ou pelos parâmetros bioquímicos, os quais possuem influências sobre as condições físicas, níveis de humor e disposição geral (LARA E SARQUIS, 2004; SANTOS E FRAZÃO, 2012; OLIVEIRA et al., 2016).
Santos e Frazão (2012) realizaram um estudo transversal comparativo e descritivo cuja amostra foi equivalente a 24 pacientes, foi aplicado o questionário de qualidade de vida designado ao paciente renal, nomeado Short Form-36 (SF-36) no qual identificaram que “a qualidade de vida está associada ao trabalho e, mesmo percebendo que cada paciente reage de uma maneira própria, alguns domínios se destacaram. Confirmou-se que a THD [terapia hemodialítica] limita a vida profissional e o fato de não trabalhar diminuiu a qualidade de vida, mesmo quando a renda familiar foi mantida” (p. 12).
Através de um recorte por gênero, identificou-se que “as mulheres que permaneceram trabalhando mantêm uma boa qualidade de vida; contudo, as mulheres que não permaneceram trabalhando obtiveram escore de qualidade de vida 7,46% menor que o dos homens que não trabalham” (Santos e Frazão, 2012, p. 9). Os autores apresentam como possível explicação o fato de que as mulheres tendem a apresentar menor índice de ansiedade quando estão trabalhando.
Há estudos que corroboram com os autores supracitados. Através do levantamento descritivo realizado em um Centro Especializado de Hemodiálise, localizado em Curitiba-PR, foi identificado que 54,55% dessa população refere condições físicas inviáveis, seja por conta de trabalhos braçais e/ou que direcionam risco à fístula arteriovenosa ou dificuldades em conciliar a rotina de tratamento com a carga horária de trabalho. Há também uma grande maioria que se queixa da presença de mal-estar, quedas da pressão e câimbras, as quais inviabilizam a realização de quaisquer atividades, pois requerem repouso (LARA E SARQUIS, 2004).
Os efeitos da doença renal existem e produzem impactos sobre a vida do paciente, contudo é possível afirmar que existem estratégias para reestruturar a rotina de vida e trabalho. Nas clínicas de hemodiálise costumamos dizer que é importante que o paciente faça hemodiálise para viver e não viva somente pela hemodiálise. Observamos que aos poucos, muitos conseguem adequar sua rotina de vida e que conciliam suas atividades laborais e/ou de lazer, com o tratamento.
Grandes nomes já foram citados neste blog como exemplos de pessoas que em terapia renal substitutiva deram continuidade à sua história, como por exemplo, Gilberto Gil.
REFERÊNCIAS:
LARA, E. A.; SARQUIS. L. M. M. O paciente renal crônico e sua relação com o trabalho, 2004. Cogitare Enfermagem. V. 9 n. 2
OLIVEIRA, A. P. B. et al. Qualidade de vida de pacientes em hemodiálise e sua relação com mortalidade, hospitalizações e má adesão ao tratamento, 2016. J Bras Nefrol.
SANTOS, T. M. B.; FRAZÃO, I. S. Qualidade de vida dos trabalhadores que realizam hemodiálise, 2012. Rev. Ciênc. Méd., Campinas.
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