por: luana santi
O artigo “Contribuições do pensamento sistêmico à prática do psicólogo no contexto hospitalar” foi escrito por More e colaboradoras em 2009, porém trata de questões ainda atuais no que concerne ao pensamento sistêmico e a atuação do psicólogo junto aos contextos de saúde.
Atualmente, considera-se que o desígnio da Psicologia da saúde é se ocupar de questões de saúde, não somente com a doença – seja ela mental ou não mental. A forma de atuação de um psicólogo da saúde difere de um psicólogo clínico.
A prática do profissional psicólogo nesse contexto, inicialmente, foi influenciada pela concepção biológica. Porém, em dado momento foi reconhecida a limitação que este método estabelece. A equipe de saúde passou a perceber que a importância de “solicitar a ajuda da equipe de trabalho, o que transformou a resolução do problema e o enfrentamento da imprevisibilidade do processo saúde-doença em uma tarefa de equipe”. Assim ocorreu o princípio do pensamento multidisciplinar, no qual os profissionais reconheceram que cada área possui suas limitações e que portanto, conciliar os saberes é uma forma de melhorar a qualidade do cuidado e do atendimento ao paciente.
Então, o psicólogo que estava adaptado ao método de atendimento clínico e individualizado, passou a compreender uma nova demanda da profissão: “a necessidade de desenvolver habilidades que permitissem o trabalho em equipe”. Neste momento, a atuação multidisciplinar “implicava no desenvolvimento de uma postura de aceitação e incorporação da diversidade presente nos diferentes saberes em benefício do melhor acolhimento do processo de saúde-doença dos envolvidos”.
Com isso, na prática profissional, o modelo biomédico (simplicidade, estabilidade e objetividade) foi substituído pela concepção biopsicossocial ( complexidade, instabilidade, imprevisibilidade e intersubjetividade) do indivíduo; a qual visa contextualizar o indivíduo, tanto interna quanto externamente, com o intuito de considerar todos os aspectos que permeiam o comportamento humano.
“No campo da Psicologia Hospitalar, esta postura de ampliar o foco da atenção quando se planeja e se reflete sobre uma ação de intervenção implica sustentar a postura do olhar da “clínica ampliada”, incluindo dados contextuais e que vão além do paciente e de sua doença e ou sua queixa. Quando se concorda com este olhar se está concomitantemente aceitando a realidade hospitalar como multifacetada e complexa”. (MORE et al., 2009, s/p). Para além disso, compreende-se também que o psicólogo atua junto a humanização do cuidado, através do acolhimento e escuta ativa.
“Como exemplo dessa prática podem-se citar: a importância de chamar as pessoas pelo nome; fornecer informações apropriadas para cada tipo de intervenção; […] evitar o uso de diminutivos que infantilizam as pessoas doentes e hospitalizadas; proteger sua integridade física e emocional durante procedimentos dolorosos e invasivos”. (MORE et al., 2009, s/p).
O pensamento sistêmico e suas contribuições à psicologia da saúde
A do pensamento sistêmico, esse reúne conceitos da Teoria dos sistemas com a Biologia, concebendo o modelo organicista de que o universo funciona como um grande organismo vivo. Sendo assim, existem diversos sistemas que se combinam e se relacionam, modificando e sofrendo modificações concomitantemente, de forma fluída e relacional.
A instituição de saúde é um sistema composto por outros diversos subsistemas, aos quais o psicólogo é um sistema observador e que por sua vez influencia tanto quanto é influenciado. O sujeito está inserido junto a um contexto interacional, cujos sintomas são reflexos das interrelações dos sistemas integrados.
Também para esta concepção, o psicólogo possui o papel de um facilitador e não de o detentor de um conhecimento privilegiado. As intervenções são baseadas em pressupostos horizontais; “a conversação terapêutica a partir do olhar sistêmico implica na busca e exploração, através do diálogo, de um intercâmbio de ideias, no qual se desenvolvam continuamente novos significados, por meio da inclusão das diferentes perspectivas que convergem num processo de intervenção” (GRANDESSO, 2000 apud. MORE et al., 2009, s/p).
A atuação sistêmica direciona a percepção para questões que ultrapassam o paciente e sua doença, pois inclui a rede de apoio/rede social, as formas de saberes, as atuações dos demais profissionais. A doença é somente um dos fatores que estão presentes na vida do paciente, mas ele não se resume a ela.
Sobre os profissionais, pode-se dizer que lidam com o “fenômeno da impotência versus possibilidades”, pois suas atuações ocorrem dentro do que as possibilidades permitem. Algumas problemáticas serão constantemente enfrentadas, podendo levar o profissional à dessensibilização de seu trabalho, culminando em uma falta de motivação e confiança em relação às atividades que desempenha. Por esta razão, “os profissionais e/ou pessoas envolvidas têm que estar atentos para não perder a sua capacidade de estranhamento, de surpresa, de questionamento e reflexão sobre suas ações. O desenvolvimento destas capacidades é um ingrediente fundamental.” (MORE et al., 2009, s/p).
Conclui-se que o pensamento sistêmico junto às instituições de saúde é uma forma de ampliar a visão e a atuação das intervenções psicológicas, pois concebe ao paciente e demais envolvidos, a responsabilidade de gerar condições para que sejam co-construtores de sua realidade.
REFERENCIA:
MORE, C. L. O. O.; CREPALDI, M. A.; GONÇALVES, J. R.; MENEZES, M. Contribuições do pensamento sistêmico à prática do psicólogo no contexto hospitalar, 2009. DOI: 10.1590/S1413-73722009000300007
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