Imagem: https://www.ijba.com.br/single-post/2019/09/23/SeminC3A1rio-de-PsicossomC3A1tica
Autora: Iris Miyake Okumura
Já lhe aconteceu de adoecer justamente em um período em que esteve com muitos afazeres, imerso na atribulação do dia-a-dia, em um momento em que a vida não podia parar? O corpo parece pedir por repouso, obrigando o sujeito que o habita a repensar suas prioridades. O corpo doente impõe um ritmo diferente à nossa rotina e promove reflexões importantes como “Quanto tempo passo trabalhando versus quanto tempo dedico à minha família”; “Por que levei tantos problemas para casa ao invés de descansar e cuidar de mim mesma ao final do dia”?
Estresse, arrependimento, insegurança, tristeza, angústia, culpa, inquietação… Como um sintoma físico traz consequências psicológicas e emocionais? A recíproca também é válida. Ficamos excessivamente preocupados e ansiosos e manifestamos uma “gastrite nervosa”, por exemplo. Como um problema de causa emocional afeta fisicamente?
A interação mente-corpo é um tema que inquieta a filósofos, cientistas e profissionais da saúde há milhares de anos. Ao longo da história, os sintomas físicos, perceptíveis, com etiologia definida acabaram ganhando maior relevância científica. As queixas de ordem emocional, dores e mal-estar inexplicáveis pela medicina foram enquadradas como transtornos somáticos. Contudo, a ciência Psicossomática defende a visão holística do indivíduo. Portanto, no contexto de adoecimento o termo deve ser usado considerando a totalidade, isto é, uma doença não é física / orgânica ou psicológica. Toda doença é psicossomática, pois engloba fatores psicológicos e físicos; afinal, o ser humano é multidimensional.
Recentemente, a Psicóloga Iris publicou a revisão integrativa de sua pesquisa de mestrado que diz respeito à relação do indivíduo com a sua doença. Por atuar na abordagem da Psicologia Analítica, essa perspectiva foi adotada para compreender o processo de adoecimento psicossomático.
A Psicologia Analítica enfatiza a necessidade de buscar não somente respostas para o motivo, a causa, o porquê da doença. A pergunta deve ser direcionada ao para quê a doença veio, à que a doença serve? Tomando um sentido prospectivo, a compreensão sobre a finalidade do adoecimento.
A Psicologia Analítica preza também para se estar atento aos acontecimentos significativos da vida. Um evento de grande importância, seja ele simultâneo ou não ao momento do adoecimento, deve ser (re)significado pela pessoa, ou seja, atribuído um sentido àquilo que foi vivenciado. Infere-se que foi impactante e pode ter trazido consequências (negativas) ao indivíduo e, portanto, deve ser integrado a sua história de vida.
Para além das características diagnóstico-clínicas da doença, esta pode surgir como indicativo de que um conteúdo simbólico se encontra em desequilíbrio. “Considerou-se o adoecer como símbolo cuja origem decorre de uma rigidez ou fragmentação no fluxo entre conteúdos conscientes e inconscientes. Diante de uma estrutura instável ou perturbada, elementos sombrios (de vivências pessoais negativas ou motivos arquetípicos) são levados ao campo da consciência (luz), um movimento energético percebido como abrupto do ponto de vista do ego. Somados à condição clínica do paciente, tais elementos se manifestam fora das possibilidades de controle e conhecimento do indivíduo, surgindo na forma somatizada ou sobrepondo-se ao complexo egoico” (OKUMURA et al., 2020).
Reforça-se a psicoterapia como recurso de acolhimento e processo catalisador para o autoconhecimento. O acompanhamento psicoterapêutico visa à promoção de bem-estar subjetivo, essencial para a manutenção de um dos pilares da qualidade de vida. O autocuidado é diário e contínuo, não é preciso aguardar a chegada de um mal para zelar pela saúde mental. Para ler a publicação do artigo na íntegra, acesse:
O Setor de Psicologia da Fundação Pró-Renal conta com cinco profissionais que realizam atendimento clínico aos doentes renais crônicos e também à comunidade externa, tanto na modalidade presencial como online.
Referências
OKUMURA, I. M.; SERBENA, C. A.; DORO, M. P. Adoecimento psicossomático na abordagem analítica: uma revisão integrativa da literatura. Psicol. teor. prat., São Paulo , v. 22, n. 2, p. 487-515, ago. 2020 . Disponível em: http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v22n2p487-515
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