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Autora: Débora Berger Schmidt
Em tempos de Pandemia mundial muito se ouve falar sobre o estresse que a população vem vivenciando diante de todas as alterações nas rotinas de vida, trabalho e cuidado das pessoas. A proposta desse texto é apresentar reflexões sobre o conceito “estresse” de forma descomplicada, podendo ajudar profissionais e/ou cuidadores a perceberem como as pessoas têm reagido diante de tanto estresse.
Ao longo do cotidiano, nos diferentes ambientes que faz parte e nas diferentes relações que constrói (no trabalho, na família, em um tratamento… ou mesmo em outras situações), uma pessoa é confrontada com múltiplos acontecimentos e problemas mais ou menos difíceis, chamados de “fontes estressoras”. Quando uma pessoa avalia que está diante da necessidade de enfrentar uma situação ameaçadora ou desafiadora, ela vivência o estresse, podendo gerar um conjunto de sintomas físicos, emocionais e comportamentais, sobre os quais nem sempre se consegue extingui-los, mas sim, administrá-los.
Essas estratégias que traçamos para enfrentar situações estressoras são definidas por alguns autores como “estratégias de enfrentamento”, ou em inglês, “coping”. Trata-se de maneiras encontradas pelas pessoas para se ajustar ou tolerar as situações desafiadoras ou ameaçadoras, abordando tanto pensamentos e crenças e como comportamentos (LAZARUS & FOLKMAN, 1984).
Vamos a alguns exemplos? Podemos considerar uma pessoa (cuidadores, funcionários da área da saúde, etc…) que está nos cuidados diretos de pessoas na situação da Pandemia e tem que se adaptar a todas as pressões postas: uso de EPIs, cuidados excessivos, rotina desgastante, isolamento familiar, entre tantas outras… Suas estratégias de enfrentamento para lidar com essa situação estressante são diversas, e seu uso vai depender das características pessoais de cada pessoa (como sua personalidade ou suas crenças, por exemplo) e dos recursos disponíveis do ambiente onde ele se encontra (como apoio social, por exemplo). Essa pessoa pode reagir de várias maneiras, mas os autores Lazarus e Folkman (1984) classificaram essas estratégias em basicamente 8, são elas:
- Confronto: A estratégia de confronto corresponde às reações mais ofensivas, ou até mesmo agressivas, para lidar com o evento estressor. Responder com certa grosseria ou com rispidez podem ser exemplos dessa reação. Embora o “desabafo” seja por vezes relevante, usá-la pode prejudicar relações pessoais, pois anula os sentimentos de outras pessoas, e por fim pode representar mais um gerador de estresse do que exatamente uma forma de auxiliar no seu enfrentamento.
- Afastamento: O afastamento é quando a pessoa evita confrontar-se com a situação estressora, minimizando muitas vezes a situação. Pensamentos que podem representar essa reação são: “Ah, mas isso – essa doença – não aconteceria comigo…” ou ainda: “Me recuso a pensar dessa forma, prefiro pensar que é menos grave do que está parecendo”. Nem sempre essa reação de afastamento é tão clara… Uma forma de se afastar do evento estressor é dormir mais, perder a hora, ou mesmo esquecer algum compromisso importante relacionado a situação estressora. Segundo alguns estudos, na área da saúde o evitamento e o afastamento tendem a expor o profissional a Síndrome de Burnout. Essa síndrome se dá quando o estresse se torna uma situação crônica que leva ao esgotamento emocional do profissional.
- Autocontrole: O autocontrole diz respeito aos esforços da pessoa em buscar o controle das emoções frente aos estímulos estressantes. Ter autocontrole pode significar não fazer nada apressadamente ou seguir um primeiro impulso. O pensamento: “Prefiro guardar meus sentimentos para mim” também pode ser um exemplo da estratégia de autocontrole. Mas aqui é preciso ter cuidado. Os sentimentos precisam ser controlados para a pessoa não ser tornas confrontativa e hostil! Por vezes, é preciso expressar os sentimentos de uma forma adequada e assertiva.
- Suporte Social: É uma estratégia de enfrentamento que está relacionada ao apoio encontrado nas pessoas e no ambiente, sendo este um fator bastante positivo. Buscar ajuda de colegas para encontrar soluções, ou apoio emocional em amigos, familiares e/ou ajuda de profissionais são exemplos dessa estratégia;
- Aceitação de Responsabilidade: Trata-se da habilidade de reconhecer a responsabilidade e relevância do seu próprio papel na tentativa de recompor o problema. Em tempos de Pandemia reconhecer essa responsabilidade ao mesmo tempo que pode ser fonte de estresse (“é muita responsabilidade lidar com isso tudo!!!”), também pode representar um engajamento melhor dos cuidados para si e para o outro: “eu sei que o cuidado também depende de mim e eu tenho algo a fazer sobre isso, então vou fazer da melhor maneira possível”. Quando empregada desta última maneira, o uso dessa estratégia tende a ser favorável porque evidencia uma possibilidade de planejamento de ação concreta e de adaptação às necessidades do meio de forma resolutiva.
- Fuga e Esquiva: É quando a pessoa utiliza de estratégias para escapar ou evitar o problema. Consiste na busca por atividades distrativas de modo a procrastinar a resolução de tarefas. Essa estratégia, junto com a do afastamento, por mais que possam gerar um conforto imediato, pode levar a vivência do Estresse crônico, e por consequência, ser indicador de vulnerabilidade para o adoecimento mental. Cuidado!
- Resolução de problemas: Pressupõe o planejamento adequado para lidar com os estressores, por exemplo, optar por resolver seu problema que gera estresse, modificar suas atitudes, sendo capaz de lidar com as pressões das pessoas e do ambiente ao seu redor pode diminuir ou eliminar a fonte geradora de estresse. Pessoas que usam essa estratégia tendem a ser resolutivas e traçam um plano de ação buscando concretizá-lo.
- Reavaliação positiva: A reavaliação positiva é uma estratégia de enfrentamento dirigida para o crescimento e mudança pessoal a partir da situação conflitante. Quando uma pessoa consegue ver os pontos positivos de uma situação difícil, ou ainda, vislumbrar o potencial de crescimento pessoal diante de tal situação é um indicador muito importante de proteção de saúde mental.
É importante considerar que uma pessoa tende a usar mais de uma estratégia de enfrentamento diante a mesma situação estressora, porém com a prevalência de uso de algumas sobre outras. O uso as estratégias depende também da capacidade de uma pessoa em ser flexível diante das situações desafiadoras que se deparam.
Esse texto teve como objetivo levantar uma reflexão sobre umas das formas possíveis de compreender uma tendência de enfrentamento diante dessa situação mundial, auxiliando a compreensão de si e das pessoas que eventualmente tem feito parte do seu cotidiano, respeitando as individualidades de cada um.
Sabe-se que a escolha das estratégias é uma forma de defesa de uma pessoa diante uma situação que lhe é conflitante, portanto, não se trata de criticar seu uso, mas de refletir sobre sua eficácia. Excessivo sofrimento mental nesse período tem sido registrado em praticamente toda população mundial, seja pela proximidade com a doença, luto e medo, ou pelas questões psicossociais e econômicas que emergiram com ainda mais evidência em nossa sociedade. Em casos de sofrimento, não desconsidere buscar canais de ajuda para acolhimento e atendimento psicoterapêutico. Você encontrar mais informações sobre o serviço de Psicologia da Pró-Renal aqui.
Nesse texto você encontra mais informações sobre estudos científicos que foram realizados com profissionais da saúde em tempos de Pandemia Covid-19.
Referências:
ANTONIAZZI, A. S., DELL’AGLIO, D. D., BANDEIRA, D. R. O conceito de coping: Uma revisão teórica. Estudos de Psicologia,Natal, 3 (2), 273-294, 1998.
LAZARUS, R. S., FOLKMAN, S. Stress, appraisal, and coping. New ‘York: Springer, 1994.
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