Autora: Iris M. Okumura
Desde pequenos somos ensinados a realizar atividades práticas como amarrar os sapatos, escovar os dentes, mas pouco aprendemos sobre o cuidado da nossa saúde psicológica. Quanto as crianças sabem hoje sobre cuidado físico em comparação ao cuidado emocional? O que é ensinado às crianças sobre higiene emocional? Praticamente nada…
Sofrimentos psicológicos podem levar a consequências de longo prazo e adquirir maior complexidade se forem ignoradas. Acabamos mantendo dores emocionais por mais tempo do que as dores físicas. Ainda assim, dificilmente tomamos medidas para preveni-las. A solidão, o fracasso e a rejeição são exemplos de sentimentos que estão presentes na nossa vida e que precisamos prestar atenção.
A solidão distorce as nossas percepções e bagunça o nosso raciocínio. Faz a gente acreditar que quem está por perto não se importa conosco e isso nos inibe de buscar ajuda por medo de sermos rejeitados para que a dor que já estamos sentindo não se intensifique. Solidão não tem relação única com o aspecto social, ou seja, em estar rodeado por pessoas; ela é definida subjetivamente por um sentimento e nos torna mais vulneráveis ao adoecimento físico.
Já a sensação de fracasso nos leva a acreditar que não conseguiremos algo. Cada pessoa pensa e reage de um jeito ao lidar com frustrações ou aos contratempos da vida, e acabamos caindo em situações assim o tempo todo. Sabe como você geralmente reage ao fracasso? Se o pensamento inicial for acreditar que é incapaz, você se sentirá sem esperança e desmotivado a tentar… e cada vez mais convencido de que não conseguirá atingir um objetivo. Por vezes, uma única experiência de falha faz com que a pessoa acredite que não seja capaz de ser bem sucedida. Uma vez convencidos de algo, é difícil mudarmos de opinião.
Faz parte nos sentirmos desmoralizados e fracassados após uma falha, mas não podemos persistir na crença de que nunca seremos bem sucedidos. É importante lutar contra os sentimentos de desesperança e quebrar o círculo vicioso negativo antes que ele recomece. Nossa própria mente e os sentimentos não são tão confiáveis quanto pensamos, são bastante reativos às situações, no sentido de que às vezes conseguem nos acolher e às vezes conseguem ser desagradáveis a nós mesmos.
Outro sofrimento psicológico para nos atentarmos é a rejeição, que pode ser tão dolorida ao ponto de nos deixar paralisados. Depois de uma rejeição, geralmente começamos a pensar em nossos defeitos e o que gostaríamos de ser. Se já não estamos nos sentindo bem, faz sentido nos colocarmos ainda mais pra baixo? Um exemplo mais prático: quando nos cortamos acidentalmente na cozinha, faz sentido continuar cutucando ainda mais fundo? Mas acabamos fazendo isso com as feridas psicológicas porque, em geral, temos pouco conhecimento sobre a nossa higiene emocional.
Pensamos de forma negativa quando nossa autoestima está abalada e ficamos mais vulneráveis ao estresse, à ansiedade, e as situações de fracasso e rejeição tendem a doer mais e demorar mais tempo para conseguirmos nos recuperar delas. Por isso, é importante compreender e mudar os nossos hábitos psicológicos que não são saudáveis. Um deles, comum a muitas pessoas, é a ruminação, ou seja, remoer pensamentos negativos que, por sua vez, acabam levando a outros comportamentos prejudiciais. É um hábito bastante custoso por passarmos muito tempo com pensamentos perturbadores que nos coloca em risco significativo de desenvolver depressão, alcoolismo, transtornos alimentares e doenças cardiovasculares. O impulso de ruminar uma situação negativa pode ser bastante forte e difícil de controlar, mas a cada oportunidade que temos para nos concentrar em algo mais construtivo, proporcionamos novas perspectivas para nós mesmos; tendemos a nos tornar mais positivos e esperançosos.
Não se consegue tratar um trauma psicológico se não conhecer a ferida. Por isso, devemos priorizar a nossa saúde psicológica, praticando higiene emocional. Tomar ações quando nos sentimos sozinhos, mudar respostas ao fracasso, proteger a autoestima e combater os pensamentos negativos, possibilitam que se construa resiliência emocional. Quando nos sentimos fragilizados, devemos reavivar a autoestima. Quando estivermos passando por uma dor emocional, devemos nos tratar com a mesma compaixão que faríamos a um amigo. Com a prática da higiene emocional passamos a melhorar a nossa longevidade e qualidade de vida e nos aproximamos da cura para as feridas psicológicas.
* Texto baseado na palestra sobre a prática da higiene emocional realizada pelo psicólogo Guy Winch, autor do livro “Emotional First Aid: Healing Rejection, Guilt, Failure, and Other Everyday Hurts” (2014). Disponível em: https://www.ted.com/talks/guy_winch_the_case_for_emotional_hygiene?language=pt-br
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