Autora: Iris M. Okumura
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Há alguns cenários possíveis de enfrentamento quando uma doença crônica se instaura. A pessoa pode lidar com a nova situação sozinha ou contar com o apoio de alguém de seu círculo social, por exemplo. Na primeira condição, a pessoa tende a encarar o problema e a responsabilidade como unicamente próprios, tornando-se suscetível à sobrecarga emocional e a ter outras dificuldades relacionadas à saúde física. Nem todos possuem uma família numerosa ou amigos sempre à disposição, mas o apoio se traduz na qualidade dos relacionamentos e na forma em que o paciente constrói as relações interpessoais. A essência do enfrentamento conjunto é que esforços são mobilizados em resposta a uma situação estressora visando um objetivo comum.
Mesmo que uma doença seja diagnosticada em uma pessoa, encarar como um problema conjunto significa compartilhar a responsabilidade, a experiência e colaborar para a adaptação à nova circunstância. O manejo de uma adversidade em conjunto é denominado de coping comunitário e representa o processo em que duas ou mais pessoas de relacionamento próximo avaliam e lidam com uma situação estressante por perceberem-na de maneira compartilhada.
Receber o suporte de alguém não significa incapacidade para lidar com o problema. Ao contrário, o apoio deve ser percebido como uma ação em conjunto em direção a um objetivo em comum, o que leva a um melhor senso de enfrentamento e autoeficácia (percepção pessoal de estar conseguindo) já que o manejo da doença e adaptação da rotina se tornam menos estressantes com o compartilhamento da experiência.
Ainda, prestar apoio ao paciente e se envolver no enfrentamento da doença não significa tomar o problema para si ou viver o adoecimento como se fosse próprio. Esse tipo de postura também acaba sendo individualizada por parte do(a) parceiro(a) gerando sobrecarga dos esforços. Essa situação é representada no quadrante superior esquerdo da figura (Dar suporte – nosso problema / minha responsabilidade) e é frequentemente vista quando a pessoa deixa a função de parceiro(a) e assume o papel de cuidador(a). Ambos parceiro(a) e paciente devem confluir para o melhor enfrentamento. Nas situações em que o tipo de doença acaba comprometendo a capacidade do paciente e inviabilizando essa parceria, o(a) cuidador(a) também pode recorrer à ampliação do suporte.
A colaboração reflete o esforço mútuo e são exemplos: conversar sobre como lidar com a doença; combinar esforços, habilidades e conhecimento para encontrarem uma solução em conjunto para o problema; negociar responsabilidades. O contexto de adoecimento demanda aspectos diferentes para o paciente e para o(a) parceiro(a), contudo, não se trata de comparar quem faz mais. A contribuição no processo pode não ser quantitativamente igual, mas as partes envolvidas devem percebê-la como equivalente. Quando o problema é visto como “nosso”, diferenças e individualidades tendem a ter menor ênfase, possibilitando a co-participação. Envolvimento mútuo significa compreender as expectativas de ambos, por um lado entender as necessidades do paciente e, por outro, conseguir expressar as necessidades ao parceiro.
O cenário mais adequado é o quadrante superior direito em vermelho (Enfrentamento conjunto – nosso problema / nossa responsabilidade), em que paciente e parceiro(a) manifestam suas percepções frente ao adoecimento e encontram os esforços investidos para o trabalho em conjunto. Essa interação inclui: parceiro(a) prover suporte; paciente solicitar suporte; paciente ser receptivo ao suporte do(a) parceiro(a); e parceiro(a) responder às necessidades do paciente.
A abordagem compartilhada implica em investimento na relação. Os benefícios se estendem à melhora do relacionamento entre paciente e parceiro(a) com maior proximidade, satisfação e comprometimento. Ter um relacionamento de qualidade é tanto um fator prévio para melhor enfrentamento da doença, como algo resultante do enfrentamento em conjunto, ou seja, é possível (re)construir a relação. Havendo o engajamento de ambos os lados, o relacionamento tende a se fortalecer e adquire-se a sensação de superar a adversidade juntos.
Referência
HELGESON, V. S.; JAKUBIAK, B.; VAN VLEET, M; ZAJDEL, M. Communal Coping and adjustment to chronic illness: theory update and evidence. Pers Soc Psychol Rev. v.22, n. 2. 2018. p. 170-195. Disponível em: <doi:10.1177/1088868317735767>.
LYONS, R. F.; MICKELSON, K. D.; SULLIVAN, M. J. L.; COYNE, J. C. Coping as a communal process. Journal of Social and Personal Relationships. v. 15, n. 5. 1998. p. 579-605.
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