por: Jéssica Caroline Santos
Recentemente a cantora Lady Gaga cancelou seu show no Rock in Rio 2017 e outras turnês devido as crises de dor causadas pela Fibromialgia. Segundo a Sociedade Brasileira para estudos da dor essa condição é considerada uma síndrome, devido apresentar um conjunto de sinais e sintomas sentidos por meio da dor no corpo todo, principalmente na musculatura. As pessoas vivenciam também uma sensibilidade nas articulações, nos músculos, tendões e em outros tecidos moles1.
A Fibromialgia está diretamente relacionada com a fadiga, distúrbios do sono, dores de cabeça, depressão e ansiedade. Neste sentido, as pesquisas demonstram que a síndrome pode ser causada por um descontrole na forma como o cérebro processa os sinais de dor1.
Os estudos sobre a dor e suas repercussões são facilmente encontrados em pacientes oncológicos, entretanto, percebemos uma corrente crescente de estudos sobre a dor em paciente com outras patologias. No entanto, ainda são escassos os estudos relacionados aos pacientes com doença renal.
Desse modo, o artigo intitulado “Prevalência da Fibromioalgia em Pacientes de Hemodiálise” dos autores Samimagham, et al., (2014)2 publicado na revista Iranian Journal of Kidney Diseases, trazem resultados importantes sobre essa população associando com a condição de depressão e alteração do padrão do sono. Nesta pesquisa, foram avaliados 148 pacientes em hemodiálise segundo os critérios do American College of Rheumatology. Os pacientes que tinham sintomas de fibromialgia foram o grupo de intervenção e os demais o controle. Outros dados foram correlacionados neste estudo, como os sociodemográficos, causas de insuficiência renal, duração da diálise, alteração de humor e sono.
Foi aplicado um questionário sobre o impacto da Fibromialgia para avaliar a qualidade de saúde atual dos pacientes. Para analisar a depressão foi utilizado o Inventário de Depressão de Beck (BDI) e para a ansiedade foi utilizado Cattle Anxiety Inventory. A adequacidade das sessões de hemodiálise foi descrita por meio do KT/V.
De acordo com os autores, dos 148 pacientes, 84 eram homens e 64 mulheres, idade média de 52,5. Destes 18 (12,2%) foram diagnosticados com fibromialgia. Essa população com fibromialgia apresentou uma qualidade de sono mais baixa em comparação ao grupo de controle. O escore do Inventário de Depressão Beck foi maior em 77,8% dos pacientes com fibromialgia, mas não houve diferença significativa no índice de ansiedade entre os dois grupos.
Neste estudo, a etiologia da insuficiência renal foi maior na diabetes mellitus em 55 pacientes (37,2%) seguidos pela hipertensão em 48 (32,4%). Em relação ao padrão do sono, a duração deste em pacientes com fibromialgia foi de 4,36 ± 1,6 horas, comparado com 6,56 ± 2,27 horas no controle e não houve diferenças significativas no KT/V. Observamos assim, que pacientes em hemodiálise com fibromialgia poderão ter alteração de humor, prejuízo no sono, impactos no tratamento e consequentemente na qualidade de vida.
Como possibilidade de intervenção existem escalas de rastreio da dor como o estudo de Silva et al., (2014)3 que utilizaram a escala Graduada de Dor Crônica Brasil – EGDC-B em pacientes que realizam hemodiálise. Os resultados evidenciaram que 72% da população apresentam alguma forma de dor. Para além do punção da fístula, a dor também pode ser sentida em todo o processo do tratamento, principalmente quando o paciente está passando por outros tratamentos como o oncológico.
Diante destes estudos, a avaliação da dor crônica em paciente renal crônico em hemodiálise pela equipe de saúde pode ajudar na melhoria do tratamento e qualidade de vida do paciente. Para além do uso da farmacoterapia, existem outras intervenções para redução ou controle da dor, como por exemplo: Técnicas como meditação, biofeedback, exercícios respiratórios, hipnose, yoga, psicoterapia3.
Sobre as terapias alternativas para manejo da dor, os autores citam um estudo realizado com pacientes renais crônicos em hemodiálise, em que 125 pacientes foram divididos aleatoriamente em: grupo controle (n = 63), que recebeu tratamento com analgésicos para alívio da dor; e grupo de intervenção (n = 62), que recebeu a massagem. A dor foi medida pela escala visual analógica. Os autores concluíram que o uso da massagem Tuiná foi eficaz no tratamento da dor, uma vez que dos 62 pacientes submetidos à intervenção, 56 não relataram dor no final da estudo.
A massagem Tuiná faz parte de terapias alternativas, com base no paradigma vitalista que enfatiza o estado geral do paciente, não enfocando apenas na doença3.
Outras intervenções não farmacológicas foram citadas com resultados positivos. Nesse contexto as intervenções multiprofissionais, pautadas no acolhimento, orientação, controle da dor, alimentação adequada, exercícios de relaxamento contribuem significativamente na qualidade de vida e melhor bem estar do paciente diante um tratamento complexo como as terapias renais substitutivas.
REFERÊNCIAS:
- – Sociedade Brasileira para Estudo da Dor – http://www.sbed.org.br/lermais_materias.php?cd_materias=473.
- – SAMIMAGHAM, Hamidreza et al. Prevalence of fibromyalgia in hemodialysis patients. Iranian journal of kidney diseases, v. 8, n. 3, p. 236, 2014.
- – DA SILVA, Olvani Martins et al. Chronic Pain and Pharmacotherapy in Chronic Renal Patients on Hemodialysis. Open Journal of Nursing, v. 6, n. 09, p. 741, 2016.
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