Textos Reflexivos

A Morte e o Luto

A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos que ela não existe”, disse Allá Bozarth-Campbell. A experiência do luto é única para cada um de nós. Há quem consiga lidar sem muitas dificuldades com a morte e o luto, há também quem sofra de uma forma que julga insuportável.

O luto não é vivenciado apenas diante da morte de algum ente querido, mas também frente às perdas cotidianas a que todos estamos, de alguma forma, vulneráveis. Seja a perda da saúde, do trabalho ou de um relacionamento. Portanto, compreender quais são as nuances psíquicas pelas quais passamos diante de um momento tão sensível, é importante.

Sigmund Freud explanou em sua obra Luto e Melancolia, reflexões significativas sobre o luto. Ele nos conta que o luto é de fato um processo doloroso, principalmente quando o objeto é algo ou alguém em quem apostamos veemente nossa energia/afeto.

O que isso quer dizer?

A psique humana está constantemente investindo energia em coisas, pessoas e atividades. Porém, quando algo a que se direcionam essas energias, deixa de existir, levará um tempo para que a psique possa traçar novos rumos/objetos de investimento. Logo, o luto é um processo no qual a energia psíquica inicialmente direcionada ao objeto (agora inexistente), será redistribuída para novas atividades, relações e situações. Ao chegar na plena repartição (de energia), é entendido que o luto foi vencido. Quando não há esta realocação junto aos investimentos que realizamos, Freud afirmou que seria o luto patológico, o qual denominou como melancolia.

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Cena do Filme: Melancholia (Lars Von Trier)

No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego” (Freud, 1917).

Kluber Ross postula que o luto é dividido por fases, são elas: A negação, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação. No primeiro momento há uma tendência a se negar a existência da situação que ocasionou o luto, como se ela não tivesse acontecido. A raiva refere-se a quando a situação já não é mais negada e passa então pelo crivo da consciência. A barganha é um período de negociação, a partir de metas e reflexões. No que tange a depressão, é possível que observemos a pessoa reagindo, mas ainda não sabendo como se planejar diante do ocorrido. Quanto a aceitação, esta ocorre diante da capacidade de compreender o acontecido, não quer dizer necessariamente que o enlutado estará feliz, apenas que está lidando com o luto (Kluber-Ross, 2012 apud.Taverna & Souza, 2014).

Na melancolia, não é como se algo querido fosse perdido, mas sim como se o eu fosse perdido de si.

Lidar com o luto de forma saudável nem de longe significa agir tranquilamente, tampouco deixar de chorar. A literatura nos indica uma série de fases e tarefas com as quais a situação de luto nos depara e direciona, mas afirmo: cada indivíduo lidará de forma única e em seu devido tempo.

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A existência humana, em suma, costuma nos apresentar a situações de perda. Mas… respire fundo, é importante um olhar de introspecção em momentos de dificuldade, para que possamos nos conhecer e ouvir o que temos a dizer a nós mesmos. O autoconhecimento é capaz de revelar a resiliência que até então esteve contida nos recônditos da psique.

 

 

 

REFERÊNCIAS

TAVERNA, G. SOUZA, W. O luto e suas realidades Humanas diante da perda e do sofrimento, 2014. Caderno Teológico da PUCPR ISSN:2318-8065

FREUD, S. Obras Completas In: (1917[1915]) Luto e melancolia (Trad. Joan Riviere.) Edit. Imago.

 

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