FONTE: www.desistirnunca.com.br/a-alma-so-envelhece-se-voce-permitir/
Por: Luiza Helena Raittz Cavallet
Já diria Fernando Pessoa, “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Porém, quando vivemos ou presenciamos uma situação de perda, dor e sofrimento, dificilmente o pensamento que nos vêm à cabeça é o de que algo positivo pode estar sendo construído nesta experiência.
No meu trabalho como Psicóloga na área da saúde, não raro ouço frases como “nada mais vale a pena”, “não há mais alegria possível”, “impossível gostar da vida deste modo ou gostar deste tratamento”. Por outro lado, também não é raro encontrar pessoas que relatam mudanças positivas que vivenciaram a partir de uma doença: mudanças internas, externas, nas relações, no modo de perceber as coisas e de reagir a elas.
Diversas vezes escutei de pacientes que a doença os tornou pessoas melhores, mais pacientes, mais compreensivas, mais gratas, mais disponíveis aos seus amigos e familiares. Por outro lado, há também aqueles que relatam que com a doença se tornaram entristecidos, irritados, amargurados. O que faz a diferença entre uma posição e outra? Penso que um dos importantes fatores aí envolvidos é a capacidade de elaboração das perdas, de realizar um processo de luto, e a flexibilidade psíquica de construir novas experiências e papéis.
Toda doença envolve uma perda, já diriam célebres autores da Psicologia Hospitalar como Waldemar Augusto Angerami Camon e Bellkiss Wilma Romano. O que se perde na doença? Além da própria condição de saúde, muitas vezes estão em jogo condições concretas como emprego, questões financeiras, familiares, mudanças de hábitos/rotinas; além de questões imaginárias, como a fantasia que temos de que nunca iremos adoecer ou precisar de tratamentos de saúde, a necessidade de reelaboração de planos e de papéis sociais. Em muitas situações a dificuldade está em deixar ir papéis anteriormente ocupados no trabalho e na família e construir novos lugares para si no mundo.
Não dizem que é preciso perder para dar valor? Quem sabe seja esse um dos aprendizados possíveis em uma experiência de doença. Quando se perde a condição de saúde, passa-se a dar valor àquilo que fica: à vida, mesmo que em condição de tratamento/doença e às possibilidades que nela ainda existem.
Como profissionais de saúde também temos nossos lutos e também é de nós exigida a capacidade de flexibilizar práticas e de encontrar modos de lidar com toda a dor e sofrimento que testemunhamos. No contato diário com estas experiências, também acompanhamos histórias de superação e renovamos cotidianamente a crença nas potencialidades humanas.
“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro”.
– Fonte: “O Encontro Marcado” Fernando Sabino
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